A Gramática do Silêncio em Winnicott, Zagodoni Editora, 2017

O livro apresenta uma compreensão de que o silêncio na psicanálise não é apenas um sinal resoluto de resistência do paciente ou da ação do recalque no inconsciente; pelo contrário, há uma grande diversidade de sentidos que ocupa a dinâmica psíquica no curso do processo analítico. A partir dos trabalhos de Winnicott e de outros autores da Escola Inglesa, Sergio Gomes percorre alguns recursos teóricos e clínicos para um entendimento positivo do silêncio, o que o levou a buscar nos primeiros momentos vividos pela dupla mãe-bebê a matriz do manejo do silêncio constituído pelo par analista-analisando.

Orelha do livro – Em “A Gramática do Silêncio em Winnicott”, Sergio Gomes oferece uma descrição dinâmica e vívida das experiências iniciais do bebê e da complexa tessitura criada no estabelecimento das relações objetais do bebê, gênese da comunicação humana. A partir da “canção sem palavras” dos momentos iniciais, o autor nos convida a acompanhar as diversas etapas e modos de comunicação estabelecidos pelo bebê ao longo de sua jornada em direção a uma identidade pessoal e à sua entrada no mundo compartilhado.

Ao longo da obra, os diversos modos e tipos de comunicação e não comunicação entre o bebê e o meio são apresentados num texto fluente e consistente, resultante do amplo conhecimento do autor sobre a teoria winnicottiana, apresentada com fidelidade sem perda da originalidade das ideias. Aprendemos que “a palavra não ressoa onde o silêncio é escasso” e que o silêncio possui uma gramática singular, cuja forma, composição e modos de expressão são discutidos ao longo do livro.
Somos apresentados ao valor da comunicação silenciosa e seu lugar primordial no manejo dos casos difíceis e no estabelecimento da condição necessária para que a retomada dos processos de amadurecimento possa ocorrer. Somos convidados a reconhecer a dimensão intercorporal da comunicação. Ouvir não acontece apenas através dos ouvidos, nem é suficiente ouvir apenas o que é dito, mas ouvir com todo o corpo e, acima de tudo, ouvir o que não pode ser expresso e, no entanto, urge em ser reconhecido. É uma obra a ser usufruída por todos os que se interessam pela clínica psicanalítica, pela reflexão sobre a técnica e por aqueles que valorizam a comunicação, em especial, aquela que se passa em outros níveis de contato, anteriores e além da fala. Neyza Prochet – Psicanalista Membro do CPRJ; Doutora em Psicologia Clínica – USP